quarta-feira, 27 de abril de 2011

Dúvidas Pascais


                                                                                      Luís Fernando Veríssimo

Filho — Papai, o que é Páscoa?
Pai — Ora, Páscoa é… bem… uma festa religiosa.
Filho — Igual o Natal?
Pai — Parecido. Só que no Natal comemora—se o nascimento de Jesus; na Páscoa, se não me engano, comemora—se sua ressurreição.
Filho — Ressurreição?
Pai — É, ressurreição. Marta, vem cá!
Mãe — Sim?
Pai — Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler meu jornal.
Mãe — Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?
Filho — Mais ou menos. Mamãe, Jesus era um coelho?
Mãe — Que é isso filho? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu! Nem parece que esse filho foi batizado! Jorge, esse filho não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos domingos. Até parece que não lhe demos uma educação cristã! Já pensou se ele soltar uma besteira dessas na escola? Deus me perdoe! Amanhã mesmo vou matricular esse moleque no catecismo!
Filho — Mas Mamãe, o Papai do Céu não é Deus?
Mãe — É filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso no catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.
Filho — O Espírito Santo também é Deus?
Mãe — É sim.
Filho — E Minas Gerais?
Mãe — Sacrilégio!
Filho — É por isso que a Ilha da Trindade fica perto do Espírito Santo?
Mãe — Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas se você perguntar no catecismo a professora explica tudo certinho!
Filho — Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?
Mãe — Eu sei lá! É uma tradição. É como o Papai Noel, só que em vez de presentes, ele traz ovinhos.
Filho — Coelho bota ovo?
Mãe — Chega! Deixa-me ir fazer o almoço que eu ganho mais!
Filho — Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?
Pai — Era, era melhor, ou então urubu.
Filho — Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, não é? Que dia que ele morreu?
Pai — Isso eu sei: na sexta-feira santa.
Filho — Que dia e que mês?
Pai — Hum… Sabe que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na sexta-feira santa e ressuscitou três dias depois, no sábado de aleluia.
Filho — Um dia depois.
Pai — Não, três dias.
Filho — Então morreu na quarta-feira.
Pai — Não, morreu na sexta-feira santa. Hum… ou terá sido na quarta-feira de cinzas ? Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois ! Como? Pergunte à sua professora de catecismo!
Filho — Papai, por que amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua?
Pai — É que hoje é sábado de aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.
Filho — O Judas traiu Jesus no sábado?
Pai — Claro que não! Ele morreu na sexta, ora!
Filho — Então por que eles não malham o Judas no dia certo?
Pai — É, boa pergunta. Filho, atende ao telefone pro papai. Se for um tal de Rogério, diga que eu saí.
Filho — Alô, quem fala?
Rogério — Rogério Coelho Pascoal. Seu pai está?
Filho — Não, foi comprar ovo de Páscoa. Ligue mais tarde, tchau.
Filho — Papai, qual era o sobrenome de Jesus?
Pai — Cristo. Jesus Cristo.
Filho — Só?
Pai — Que eu saiba sim, por quê?
Filho — Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?
Pai — Coitada!
Filho — Coitada de quem?
Pai — Da sua professora de catecismo!

terça-feira, 26 de abril de 2011

Moléculas simples se combinam para formar elementos químicos poderosos.
Células simples se combinam para constituir formas poderosas de vida.
Componentes eletrônicos simples se combinam para formar poderosos computadores.

Logicamente, todas coisas são criadas pela combinação de componentes simples e de menor potência.
Logo, um ser supremo deve ser nosso futuro, não nossa origem.

terça-feira, 12 de abril de 2011

O Sabor do Silêncio

Eu sei bem o que foi perder o seu sabor de mim.
Hoje não me importo.


Agora sinto outros gostos. Felizmente tão melhores...
sabores que combinam com todo o silêncio dos nossos olhares.

domingo, 10 de abril de 2011

cascas finas

O arrependimento é uma dádiva dos que têm coração frágil - acredite, não é o meu caso.

Tenho certeza que o rosto dele ainda sente minha mão, leve, que seja, porém com uma veemência que impressionou até a mim.
Gosto do tipo dele... o charme, a voz... o jeito. Enfim, ele por completo me agrada. Inclusive as brincadeiras que levaram ao ato justamente aplicado. O que me levou a praticá-lo? Não sei. Foi instintivo. Nada que nele me agradasse deu-se por conta que seria melhor deixar pra lá o acontecido do que perdê-lo pela própria brincadeira.
Se interpretei mal, não sei. Aliás, sei. E a resposta é sim, interpretei mal.
Mas eu não me arrependo, apesar de querer. Não corri, pedi desculpas, nem nada.
E aqui apenas um desabafo aos que ousam entender, ou para os que gostam de ler besteiras.




É, devo pedir desculpas. vou fazer isso.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A voz do Mudo no Silêncio Perdido


                                                                                           Não tenho palavras,
realmente não as tenho.


Hoje pensei sobre a possibilidade de sobreviver a novos amores...
nada de amores do passado, presente ou futuro.
quero amores que nunca existirão.
que passam por acaso por você; 
ele vive, gosta, ama. será esquecido de propósito em um coração que não sabe amar, que não quer se apaixonar. é qualquer tipo de amor que me agrada. mas é desse que eu quero agora.


então, vocês, que tiverem um coração vadio, que se apaixona e não tem medo de ser enterrado vivo em um outro coração frio, vazio e que não liga pra ele, mostre-me seu interesse. mas saiba que eu não vou mostrar o meu.

domingo, 3 de abril de 2011

Um corvo albino

O caminho não era distante, sequer fizera três minutos de caminhada.
Na esquina um quase esbarro com aquela jaqueta jeans que cobria a munição armada por uma valentia tão poderosa que temia à ela mesma.
O desvio da atenção provocado pelo longo cano que se escondia nada durou, o tremer dos olhos me devolveu ao caminho e sem hesitação continuei. Nada de olhar para trás.





Tenho medo de armas,
                        cobras,
                        e fogo.
Se quer me matar de medo,
                           dê uma arma de fogo à uma cobra.